Melissa Anelli: Não há claramente um vencedor [em OdF].

JKR: Não há uma resolução direta. Não há uma resolução direta. Pela primeira vez, você termina em um final deprimente. Quero dizer, Voldemort ter voltado é uma mudança horrível nos eventos, mas Harry também voltou, Harry sobreviveu. No quinto, é muito mais pesado, acompanhando o tom de todo o livro. Ganhamos por ter impedido Voldemort de conseguir a informação – mas perdemos Sirius. Então, fazendo um balanço, pela primeira vez temos – você faz uma análise do custo-benefício e vê que não foi bom. O resultado não foi tão bom [para compensar].

MA: Você estava preocupada sobre como o leitor reagiria?

JKR: Eu sabia. No geral, é o livro mais negro da série, por causa de tudo que Harry passa internamente. Porque você vê o mundo pelos olhos de Harry, ainda que a narrativa não seja em primeira pessoa. Seu humor, seu estado interno afeta tudo. Então, quando ele começa a lutar no seis, é como se o sol tivesse surgido, de certa forma, e, embora o mundo em volta dele esteja complicado, ele agora tem essa vontade de “vamos fazer”, e acho que, com isso, o humor melhora enormemente.

Eu não me preocupei... me preocupei tanto quanto poderia me preocupar. Isso é algo que não considerei. Só pensei “tenho de escrever o que quero escrever”. Você não pode ser afetado por popularidade ou impopularidade nisso, é errado. Você tem de escrever o que você quer escrever, contar sua história. E eu sempre quis que Harry passasse por essa fase onde... ele tivesse de questionar, sozinho no escuro. Por que eu? Por que tem de ser eu? Eu perguntaria. Qualquer um perguntaria. É claro, em muitos aspectos, é incrivelmente implausível que ele chegou tão longe sem ter um ataque nervoso, e é implausível que o ataque não tenha sido ainda maior.

Lembro de ter falado disso com Dan Radcliffe. Estávamos falando sobre a culpa dos sobreviventes e os bagunçados e complicados sentimentos que ele tem quando a Cedrico, além da percepção de isolamento. Porque Rony e Hermione são as pessoas que compreendem melhor, mas eles não são O Escolhido, eles não têm a cicatriz. Estar totalmente sozinho....

[risos] Taaaaalvez alguns dos meus sentimentos sobre a minha situação possam ter escapade para Harry em algum ponto, me vendo falar, percebo isso, mas não tenho certeza. Sempre planejei que ele se perderia em insegurança e raiva, para voltar para o sexto. Porque o seis e o sete são tão relacionados, posso ver isso agora. Você sai do final do sexto e vai direto para o sétimo, não acho que tenha acontecido alguma mudança emocional com Harry entre o sexto e o sétimo, você não concorda?

MA: Até o último terço do sétimo.

JKR: Sim, então tudo se perde em absoluto e Harry vira o guerreiro solitário, que acho que é o que esperamos na literatura tradicional, não? Esperamos que chegue um ponto em que todos têm de se afastar.

Outra coisa interessante no cinco é que é um livro em que Harry tem pessoas a sua volta até o final. Isso foi de propósito, porque ele se sente tão isolado no decorrer dele e, então, no final – e eles fizeram isso muito bem no filme – chega o momento em que ele percebe que as pessoas não vão deixá-lo, então, pela primeira vez, a grande cena de luta é ele tendo os outros a sua volta. Foi uma inversão deliberada. Antes, ele era uma pessoa muito mais feliz e ia em frente sozinho. Essa vez, ele precisou de apoio e conseguiu. Isso também pode ter tirado a emoção do final, porque é muito satisfatório ver o herói fazer tudo sozinho.